quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Perdida

O que é que eu faço aqui?
Eu nem sei  como cheguei...
Cheguei a um beco sem saída
E ainda não me encontrei
Caminho sem rumo certo
Para onde devo ir?
Ninguém me diz o trajeto
Que eu devo seguir
Vagueio ao acaso
Sem sorrir e sem sonhar
Estou tão perdida
E ninguém me vem procurar
Grito e ninguém me ouve
Escuto e não ouço nada
Vivo sem destino
Vivo desesperada
Não encontro a solução
E não sei onde procurar
Anseio pelo dia
Em que as minhas feridas vão curar
Sangro e não sinto dor
Choro sem chorar
Sem medo ou desejo
Vou parar para descansar.



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Voa, voa,...

Olha, olha aquela folha!
Olha como ela voa sem voar...
Ah! Quem me dera ser tu...
Ser tão leve e tão livre
Ser completamente livre
Onde nem o céu é o limite
Ter a tua inocência e a ausência dela
Voar e voar...
Ir para onde me levasse o vento
Sem perguntas, sem respostas,
Ser simplesmente o que sou
Ser folha (Oh! Infelizmente, não sou tu)
Sou fraca e sinto
E com o sentir vêm as perguntas, os medos, as insegurança, a prisão da vida
E deparo-me
Que tu és tudo o que eu não sou
Voa, voa pequena folha
Não te prendas por mim
Vai que eu fico
Não posso ir:
Tu não pensas e eu penso
Eu sou o que sou e tu és tudo o que eu queria ser
Voa, voa,...
Livre folha...


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Sonho estranho

Esta noite tive um sonho estranho. Sonhei que ia de mota, acelerei um pouco e perdi o seu controlo. Despistei-me e o meu corpo arrastou cerca de 10 metros no chão. De início, não percebi, mas mal caí da mota, separei-me do meu corpo. Olhei para ele mais tarde. Vi-o a sagrar, todo arranhado e um pouco inchado. Reparei também que não levava capacete. Como fui esquecer-me do capacete?
            Veio alguém a gritar e, passados poucos minutos, chegou a ambulância. Atrás da ambulância surgiu uma onda de pessoas que se colocaram em volta ao meu corpo, enquanto os paramédicos o analisavam.
            O meu pai chegou ao local e, ao vê-lo destroçado, tentei exaustivamente voltar para o meu corpo, mas foi a primeira tentativa falhada. Logo a seguir, chegou a minha mãe e agarrou-se ao meu corpo a pedir que eu voltasse. Tentei então mais uma vez voltar, mas, mais uma vez, falhei.
            Taparam-me o corpo e dirigiram-se aos meus pais. A minha mãe desfez-se em lágrimas e percebi, então, que o meu corpo morrera.
             Chegou o meu irmão e eu nunca me senti tão mal. “Eu não o posso deixar”. “Eu tenho que o ver crescer”. Tentei então voltar ao meu corpo com a força das lágrimas do meu irmão, mas nem essa força foi suficiente: falhei.
Percebi então, que a morte não é o fim dos sentimentos, mas sim, o piorar deles.
            Saltei logo para o dia do funeral. Todos os meus familiares e amigos vestidos de negro. Só o meu corpo dentro do caixão estava vestido de branco. Custou-me tanto, vê-los tao mal com o meu fim. Eu não podia deixá-los. Morreria novamente de saudade.
            Alguns choravam, outros rezavam e outros falavam sobre as roupas, o caixão, as pessoas, o acidente. Tinham todos uma rosa vermelha na mão que atiraram para dentro do caixão. Pareciam manchas de sangue num manto branco e isso, fez-me lembrar o acidente. Fecharam o caixão e colocaram-no naquele buraco. Taparam-no com aquela terra negra como a morte. Como pode ser a terra o destino de todos os corpos humanos?
            Apareceu uma luz branca e brilhante à minha frente e percebi que mais ninguém reparara nela. Não tine outra reação possível, senão caminhar em direção a ela, mas, quando estava prestes a atingi-la, acordei num salto.

            Talvez se eu dormisse mais um segundo e atingisse a luz, já não conseguiria acordar. 


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Prisioneira no meu corpo

Cada vez mais, sinto que este corpo não me pertence e sou eu que lhe pertenço. Eu não o consigo fazer agir ou até parar, mas, ironicamente, ele consegue fazê-lo comigo.
            Quando estou no silêncio, mando-o gritar, mas só consigo com que fique ainda mais silêncio em mim. Quando me sinto sozinha, mando-o aproximar-se das pessoas que me fazem bem, mas como reposta, ele fogem para o mais possível delas. Quando choro e o mando sorrir, ele solta cada vez mais lágrimas. Quando perco o controlo e o mando parar, ela ataca-me como se de um erro se tratasse. Quando quero que ele pense em momentos alegres e felizes, ele age como se não soubesse o que isso era, como se nunca tivesse passado por momentos desses. Se eu passei por esses momentos, como é que ele não os passou comigo? Por mais tempo que passe e por mais provas que apareçam, apercebo-me de que tudo o se passa comigo é pura ilusão, ou simplesmente imaginação.
            Por mais que tente não consigo controlar, nem influenciar o meu corpo. Porém, quando nele se sente triste, eu sinto-me triste; quando ele sente medo, eu sinto o seu desespero; quando ele sofre, eu sinto toda a sua dor. E quando eu me sinto feliz (o que raramente acontece) não consigo fazer com que ele sinta o mesmo e ele acaba por me influenciar com a sua dor e a felicidade extingue-se assim do meu corpo e da minha alma, até que já não reste mais esperança.

            Perdi o controlo de tudo. E agora sou prisioneira deste corpo que não me pertence.


domingo, 7 de dezembro de 2014

A minha alma

Entraram a correr, apressados, cerca de 2 ou 3 bombeiros, pelo hospital, a empurrar a maca onde eu estava deitada. Eu não conseguia ter bem a noção do espaço nem do tempo e muito menos, do que estava a acontecer.
                Levaram-me para uma sala escura e vazia e começaram a chegar umas tantas pessoas que, julgo eu, seriam médicos e enfermeiros. Vi que estavam todos bastante agitados e um pouco aflitos, o que eu não consiga perceber, pois eu sentia-me cada vez mais calma. Corriam pela sala e mexiam em instrumentos que eu nunca vira.
                Quanto mais o tempo passava menos noção tinha do meu corpo estava a perder a ligação com ele e estávamos a deixar de ser um só para passarmos a ser dois elementos distintos.
                Finalmente deu-se o colapso e quebrou-se a ligação entre mim e o meu corpo. Senti-me a escorregar pela cama, mas o meu corpo permanecia quieto. Quando perdi, de vez, a união com o meu corpo e a máquina começou a apitar com outro ritmo, senti-me finalmente livre. Fundi-me com o ar e subi até ao teto e fiquei lá a flutuar e a observar o meu corpo.
                Alguém se apressou em buscar aquela máquina que, até então, só tinha visto em filmes. Só sabia que aquela máquina dava uma espécie de choques elétricos e só se usava quando o coração parava de bater. Levei as mãos ao peito e realmente não sentia o coração.
                Encostaram duas “coisinhas” ao meu peito e o meu corpo saltou. Sorri como uma criança que assiste a uma animação de circo. Repetiram o mesmo processo duas ou três vezes, ma depois desistiram. Já nada adiantava. O meu coração parara para nunca mais voltar a bater. Decidiu que chegara a sua hora de descansar.

                Um dos médicos tapou-me com um lençol e disse sem grande agitação e com alguma frieza: “Está morta!”. E todos saíram da sala. E eu? Eu continuava lá a observar o meu corpo agora coberto com aquele lençol, mas finalmente senti-me livre e calma, finalmente senti-me feliz…


sábado, 6 de dezembro de 2014

Uma noite na casa abandonada - 4ºCapitulo

-António…- Gritou novamente Clara.
António deu um grito. Tinha levado u m tiro no braço.
-Estás bem, António?
-Sim, estou. Vai-te embora. Foge!
A arma estava caída e o homem ia em direção a ela. Clara levantou-se e chegou primeiro e, sem pensar, disparou contra o homem.
A casa estava quase a desabar. Clara correu até António, ajudou-o a levantar-se e foram em direção à porta.
Quando saíram, estava lá a turma toda, a polícia e uma ambulância. Foram todos ter com eles e os paramédicos foram buscar o António para lhe tratarem do braço.
O chefe da polícia ia a entrar para buscar o chefe (os outro dois já tinham sido apanhado).
-Não entre! A casa está a desabar.- Disse Clara
-Eu tenho que o prender, não o posso deixar morrer. – Disse o agente virando as costas.
-Eu matei-o…-Disse Clara com alguns soluços.
-Queres contar-me melhor essa história? – Disse o agente aproximando-se de Clara.
Clara estava muito nervosa e não queria falar.
-Não tenhas medo Clara. Eu não te vou prender. – Disse o agente tentando deixa-la à vontade.
-Eu e o António estávamos à janela e ele viu-nos. Quando chegámos à sala ele estava a pegar fogo à sala e apontou-nos uma arma. O António começou a lutar com ele e levou um tiro no braço. O homem foi em direção à arma e eu também. Cheguei primeiro e disparei. Não tive escolha. Era ele ou nós. – Disse Clara começando a chorar.
-Calma Clara! – Diziam os amigos tentando acalmá-la.
-Mas há mais… - Continuava Clara.
-Fala. – Pediu o agente.
- Os outros dois falaram em embarcar crianças para África.
-Vou fazer uns telefonemas.- Disse o agente afastando-se. 
Clara vai ter com António à ambulância.
-Como estás? – Pergunta ela.
-Bem, graças a ti…-Disse António.
-Temos que ir. – Disse ao paramédico a António e Clara.
Clara sai sorrindo para António. Os colegas de turma vêm ter com ela e chega também o agente.
-Não te salvaste só a ti e ao António… Salvaste mais 52 crianças.
-Ainda bem. 
-Agora tem que vir comigo até à esquadra.
Clara foi com o agente e o resto da turma foi para casa. Os pais já sabiam de tudo e ninguém acabou por ser castigado.
Depois de Clara restar depoimento, foi ao hospital ter com António. 
-Como estás? – Perguntou Clara entrando no quarto e sentando-se aos pés da cama onde António também estava sentado.
-Já te disse que estou bem. Estou pronto para outra.
-Não digas isso nem a brincar.
-Clara… -Começou António pegando na mão de Clara. -Foste muito corajosa.
-Não havia outra solução. – Disse Clara.
-Havia sim. Podias ter fugido como eu te disse.
-Eu era incapaz de te deixar lá. – Disse Clara e ficaram os dois a sorrir um para o outro.
-Já podes ir embora. – Disse a enfermeira entrando no quarto. 
-Já não era sem tempo. – Disse António levantando-se da cama.
Clara e António saíram para a sala de espera e passados alguns minutos chegaram os pais de António que iam levar Clara a casa.
A caminho do carro, Clara e António ficaram mais para trás.
-Tive medo de te perder. – Disse Clara e António sorriu. – De que te estás a rir.
-Nada. Só nunca pensei ouvir-te dizer isso.
-Também nunca pensaste levar um tiro.
-Então, se eu não levasse um tiro, não dizias isso? Já valeu a pena.
António não lhe deu oportunidade de responder e beijou-a. Sorriram um para o outro e entraram para o carro.
Passadas algumas semanas o braço se António já estava curado e podia fazer o que mais gostava que era jogar futebol de salão.
António e Clara assumiram uma relação e estavam cada vez mais felizes juntos.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Uma noite na casa abandonada - 3ºCapitulo

-Não faças barulho.- Diz António.
Estava uma chave no chão. António levantou-se e foi tentar trancar a porta. E conseguiu. A chave era daquela porta. 
Os homens pararam no corredor a conversar.
-Não achas que exageraste?
-Com o quê?
-Com os outros dois. Eram nossos amigos.
-Amigos!? Eles iam contar tudo à polícia.
-Talvez os conseguíssemos convencer a não contar nada.
-Agora não há nada a fazer.
Clara e António olham-se e voltam-se a abraçar.
Que estariam aqueles homens a fazer naquela casa? Seria um local de encontro? Qual seria o plano deles?
-Desta vez é o quê?- Pergunta um dos homens.
-Cocaína.
-O patrão nunca mais chega.
-Deve estar a embarcar as crianças para a África.
-Vamos lá para baixo.
Os homens desceram e Clara soltou uma lágrima e António deu-lhe um beijo na testa.
-Vai correr tudo bem.- Sussurrou António
-António, eu quero sair daqui.
-Calma. Eu vou tirar-te daqui. Prometo.
António levantou-se e foi em direção à porta.
-Que estás a fazer António?
-Vou tirar-te daqui. Fica aqui.
-António…
-Vai correr tudo bem.- Diz António.
Ouve-se um carro a chegar. Clara levanta-se e vai até à janela.
-António entra!- Diz Clara correndo até à porta.
-Que se passa?
-O patrão chegou.
-Ainda estão ali todos.- Diz António
-Quem?- Pergunta Clara espreitando.
-Os da nossa turma. Olha eles ali escondidos.
-Eles são doidos.
Os dois homens foram embora e só ficou o chefe. Seria esta a melhor oportunidade para ele fugirem?
O chefe olhou para a janela e Clara e António baixaram-se, mas ele viu-os.
-Anda Clara! Rápido!- Disse António puxando Clara pela mão.
António e Clara chegaram à sala e o homem estava a espalhar gasolina para pegar fogo à casa.
-Vós não devias estar aqui. -Disse o homem a António e Clara.
-Por favor, não faça isso.- Pediu Clara enquanto o homem acendia o isqueiro.
-Lamento.- Disse o homem com alguma troça.
-Deixe-a sair, por favor.- Pedia António.
-Nem pensar, mas vou poupar-vos algum sofrimento.- Disse o homem pegando numa arma.
Clara e António estavam um pouco afastados, por isso, o homem apontou a arma para Clara que estava muito assustada.
António tivera prometido a Clara que não deixaria que nada de mal lhe acontecesse, por isso, começou a lutar com o homem que deixou cair o isqueiro.
A casa começou a arder.
-António, para!- Gritava Clara.
De repente ouviu-se um tiro.