Entraram a correr, apressados, cerca de 2 ou 3 bombeiros, pelo
hospital, a empurrar a maca onde eu estava deitada. Eu não conseguia ter bem a noção
do espaço nem do tempo e muito menos, do que estava a acontecer.
Levaram-me para uma sala escura
e vazia e começaram a chegar umas tantas pessoas que, julgo eu, seriam médicos e
enfermeiros. Vi que estavam todos bastante agitados e um pouco aflitos, o que
eu não consiga perceber, pois eu sentia-me cada vez mais calma. Corriam pela
sala e mexiam em instrumentos que eu nunca vira.
Quanto mais o tempo passava
menos noção tinha do meu corpo estava a perder a ligação com ele e estávamos a
deixar de ser um só para passarmos a ser dois elementos distintos.
Finalmente deu-se o colapso e
quebrou-se a ligação entre mim e o meu corpo. Senti-me a escorregar pela cama,
mas o meu corpo permanecia quieto. Quando perdi, de vez, a união com o meu
corpo e a máquina começou a apitar com outro ritmo, senti-me finalmente livre. Fundi-me
com o ar e subi até ao teto e fiquei lá a flutuar e a observar o meu corpo.
Alguém se apressou em buscar
aquela máquina que, até então, só tinha visto em filmes. Só sabia que aquela máquina
dava uma espécie de choques elétricos e só se usava quando o coração parava de
bater. Levei as mãos ao peito e realmente não sentia o coração.
Encostaram duas “coisinhas” ao
meu peito e o meu corpo saltou. Sorri como uma criança que assiste a uma animação
de circo. Repetiram o mesmo processo duas ou três vezes, ma depois desistiram.
Já nada adiantava. O meu coração parara para nunca mais voltar a bater. Decidiu
que chegara a sua hora de descansar.
Um dos médicos tapou-me com um lençol
e disse sem grande agitação e com alguma frieza: “Está morta!”. E todos saíram da
sala. E eu? Eu continuava lá a observar o meu corpo agora coberto com aquele lençol,
mas finalmente senti-me livre e calma, finalmente senti-me feliz…
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