quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Prisioneira no meu corpo

Cada vez mais, sinto que este corpo não me pertence e sou eu que lhe pertenço. Eu não o consigo fazer agir ou até parar, mas, ironicamente, ele consegue fazê-lo comigo.
            Quando estou no silêncio, mando-o gritar, mas só consigo com que fique ainda mais silêncio em mim. Quando me sinto sozinha, mando-o aproximar-se das pessoas que me fazem bem, mas como reposta, ele fogem para o mais possível delas. Quando choro e o mando sorrir, ele solta cada vez mais lágrimas. Quando perco o controlo e o mando parar, ela ataca-me como se de um erro se tratasse. Quando quero que ele pense em momentos alegres e felizes, ele age como se não soubesse o que isso era, como se nunca tivesse passado por momentos desses. Se eu passei por esses momentos, como é que ele não os passou comigo? Por mais tempo que passe e por mais provas que apareçam, apercebo-me de que tudo o se passa comigo é pura ilusão, ou simplesmente imaginação.
            Por mais que tente não consigo controlar, nem influenciar o meu corpo. Porém, quando nele se sente triste, eu sinto-me triste; quando ele sente medo, eu sinto o seu desespero; quando ele sofre, eu sinto toda a sua dor. E quando eu me sinto feliz (o que raramente acontece) não consigo fazer com que ele sinta o mesmo e ele acaba por me influenciar com a sua dor e a felicidade extingue-se assim do meu corpo e da minha alma, até que já não reste mais esperança.

            Perdi o controlo de tudo. E agora sou prisioneira deste corpo que não me pertence.


domingo, 7 de dezembro de 2014

A minha alma

Entraram a correr, apressados, cerca de 2 ou 3 bombeiros, pelo hospital, a empurrar a maca onde eu estava deitada. Eu não conseguia ter bem a noção do espaço nem do tempo e muito menos, do que estava a acontecer.
                Levaram-me para uma sala escura e vazia e começaram a chegar umas tantas pessoas que, julgo eu, seriam médicos e enfermeiros. Vi que estavam todos bastante agitados e um pouco aflitos, o que eu não consiga perceber, pois eu sentia-me cada vez mais calma. Corriam pela sala e mexiam em instrumentos que eu nunca vira.
                Quanto mais o tempo passava menos noção tinha do meu corpo estava a perder a ligação com ele e estávamos a deixar de ser um só para passarmos a ser dois elementos distintos.
                Finalmente deu-se o colapso e quebrou-se a ligação entre mim e o meu corpo. Senti-me a escorregar pela cama, mas o meu corpo permanecia quieto. Quando perdi, de vez, a união com o meu corpo e a máquina começou a apitar com outro ritmo, senti-me finalmente livre. Fundi-me com o ar e subi até ao teto e fiquei lá a flutuar e a observar o meu corpo.
                Alguém se apressou em buscar aquela máquina que, até então, só tinha visto em filmes. Só sabia que aquela máquina dava uma espécie de choques elétricos e só se usava quando o coração parava de bater. Levei as mãos ao peito e realmente não sentia o coração.
                Encostaram duas “coisinhas” ao meu peito e o meu corpo saltou. Sorri como uma criança que assiste a uma animação de circo. Repetiram o mesmo processo duas ou três vezes, ma depois desistiram. Já nada adiantava. O meu coração parara para nunca mais voltar a bater. Decidiu que chegara a sua hora de descansar.

                Um dos médicos tapou-me com um lençol e disse sem grande agitação e com alguma frieza: “Está morta!”. E todos saíram da sala. E eu? Eu continuava lá a observar o meu corpo agora coberto com aquele lençol, mas finalmente senti-me livre e calma, finalmente senti-me feliz…


sábado, 6 de dezembro de 2014

Uma noite na casa abandonada - 4ºCapitulo

-António…- Gritou novamente Clara.
António deu um grito. Tinha levado u m tiro no braço.
-Estás bem, António?
-Sim, estou. Vai-te embora. Foge!
A arma estava caída e o homem ia em direção a ela. Clara levantou-se e chegou primeiro e, sem pensar, disparou contra o homem.
A casa estava quase a desabar. Clara correu até António, ajudou-o a levantar-se e foram em direção à porta.
Quando saíram, estava lá a turma toda, a polícia e uma ambulância. Foram todos ter com eles e os paramédicos foram buscar o António para lhe tratarem do braço.
O chefe da polícia ia a entrar para buscar o chefe (os outro dois já tinham sido apanhado).
-Não entre! A casa está a desabar.- Disse Clara
-Eu tenho que o prender, não o posso deixar morrer. – Disse o agente virando as costas.
-Eu matei-o…-Disse Clara com alguns soluços.
-Queres contar-me melhor essa história? – Disse o agente aproximando-se de Clara.
Clara estava muito nervosa e não queria falar.
-Não tenhas medo Clara. Eu não te vou prender. – Disse o agente tentando deixa-la à vontade.
-Eu e o António estávamos à janela e ele viu-nos. Quando chegámos à sala ele estava a pegar fogo à sala e apontou-nos uma arma. O António começou a lutar com ele e levou um tiro no braço. O homem foi em direção à arma e eu também. Cheguei primeiro e disparei. Não tive escolha. Era ele ou nós. – Disse Clara começando a chorar.
-Calma Clara! – Diziam os amigos tentando acalmá-la.
-Mas há mais… - Continuava Clara.
-Fala. – Pediu o agente.
- Os outros dois falaram em embarcar crianças para África.
-Vou fazer uns telefonemas.- Disse o agente afastando-se. 
Clara vai ter com António à ambulância.
-Como estás? – Pergunta ela.
-Bem, graças a ti…-Disse António.
-Temos que ir. – Disse ao paramédico a António e Clara.
Clara sai sorrindo para António. Os colegas de turma vêm ter com ela e chega também o agente.
-Não te salvaste só a ti e ao António… Salvaste mais 52 crianças.
-Ainda bem. 
-Agora tem que vir comigo até à esquadra.
Clara foi com o agente e o resto da turma foi para casa. Os pais já sabiam de tudo e ninguém acabou por ser castigado.
Depois de Clara restar depoimento, foi ao hospital ter com António. 
-Como estás? – Perguntou Clara entrando no quarto e sentando-se aos pés da cama onde António também estava sentado.
-Já te disse que estou bem. Estou pronto para outra.
-Não digas isso nem a brincar.
-Clara… -Começou António pegando na mão de Clara. -Foste muito corajosa.
-Não havia outra solução. – Disse Clara.
-Havia sim. Podias ter fugido como eu te disse.
-Eu era incapaz de te deixar lá. – Disse Clara e ficaram os dois a sorrir um para o outro.
-Já podes ir embora. – Disse a enfermeira entrando no quarto. 
-Já não era sem tempo. – Disse António levantando-se da cama.
Clara e António saíram para a sala de espera e passados alguns minutos chegaram os pais de António que iam levar Clara a casa.
A caminho do carro, Clara e António ficaram mais para trás.
-Tive medo de te perder. – Disse Clara e António sorriu. – De que te estás a rir.
-Nada. Só nunca pensei ouvir-te dizer isso.
-Também nunca pensaste levar um tiro.
-Então, se eu não levasse um tiro, não dizias isso? Já valeu a pena.
António não lhe deu oportunidade de responder e beijou-a. Sorriram um para o outro e entraram para o carro.
Passadas algumas semanas o braço se António já estava curado e podia fazer o que mais gostava que era jogar futebol de salão.
António e Clara assumiram uma relação e estavam cada vez mais felizes juntos.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Uma noite na casa abandonada - 3ºCapitulo

-Não faças barulho.- Diz António.
Estava uma chave no chão. António levantou-se e foi tentar trancar a porta. E conseguiu. A chave era daquela porta. 
Os homens pararam no corredor a conversar.
-Não achas que exageraste?
-Com o quê?
-Com os outros dois. Eram nossos amigos.
-Amigos!? Eles iam contar tudo à polícia.
-Talvez os conseguíssemos convencer a não contar nada.
-Agora não há nada a fazer.
Clara e António olham-se e voltam-se a abraçar.
Que estariam aqueles homens a fazer naquela casa? Seria um local de encontro? Qual seria o plano deles?
-Desta vez é o quê?- Pergunta um dos homens.
-Cocaína.
-O patrão nunca mais chega.
-Deve estar a embarcar as crianças para a África.
-Vamos lá para baixo.
Os homens desceram e Clara soltou uma lágrima e António deu-lhe um beijo na testa.
-Vai correr tudo bem.- Sussurrou António
-António, eu quero sair daqui.
-Calma. Eu vou tirar-te daqui. Prometo.
António levantou-se e foi em direção à porta.
-Que estás a fazer António?
-Vou tirar-te daqui. Fica aqui.
-António…
-Vai correr tudo bem.- Diz António.
Ouve-se um carro a chegar. Clara levanta-se e vai até à janela.
-António entra!- Diz Clara correndo até à porta.
-Que se passa?
-O patrão chegou.
-Ainda estão ali todos.- Diz António
-Quem?- Pergunta Clara espreitando.
-Os da nossa turma. Olha eles ali escondidos.
-Eles são doidos.
Os dois homens foram embora e só ficou o chefe. Seria esta a melhor oportunidade para ele fugirem?
O chefe olhou para a janela e Clara e António baixaram-se, mas ele viu-os.
-Anda Clara! Rápido!- Disse António puxando Clara pela mão.
António e Clara chegaram à sala e o homem estava a espalhar gasolina para pegar fogo à casa.
-Vós não devias estar aqui. -Disse o homem a António e Clara.
-Por favor, não faça isso.- Pediu Clara enquanto o homem acendia o isqueiro.
-Lamento.- Disse o homem com alguma troça.
-Deixe-a sair, por favor.- Pedia António.
-Nem pensar, mas vou poupar-vos algum sofrimento.- Disse o homem pegando numa arma.
Clara e António estavam um pouco afastados, por isso, o homem apontou a arma para Clara que estava muito assustada.
António tivera prometido a Clara que não deixaria que nada de mal lhe acontecesse, por isso, começou a lutar com o homem que deixou cair o isqueiro.
A casa começou a arder.
-António, para!- Gritava Clara.
De repente ouviu-se um tiro.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Uma noite na casa abandonada - 2ºCapitulo

Desceram, os dois, as escadas devagar, mas quando chegaram à porta ela estava trancada.
-E agora António?- Sussurrou Clara
-Vamos ver se está alguém na sala. Se não estiver, saímos por lá.
-O quê?
-Não te preocupes! Eu protejo-te.
Foram os dois em direção à sala. Clara ia agarrada a António. Ele deu-lhe a mão e foi mais à frente. Quando chegaram à sala só lá estava um homem estendido no chão.
-António, olha ali!-Disse Clara apontando para o homem.
António foi em direção ao homem para ver se estava vivo. Pôs o seu dedo indicador no pescoço do homem e viu que no tinha pulsação.
-Está morto! -Diz António olhando para Clara.
-Vamos embora, por favor!-Pede Clara assustada.
Tentaram abrir porta, mas também estava trancada.
-Quem trancou as portas todas.
Ouviram-se passos e alguém a falar.
-Vamo-nos esconder. Rápido!
António puxa Clara pela mão e escondem-se atrás de uma secretária que estava na sala. Desceram dois homens pelas escadas e foram em direção o cadáver.
-Este teve o que merecia…-Disse um dos homens dando-lhe um pontapé.
Clara apertou com toda a sua força a mão de António e este, para a acalmar, abraçou-se a ela.
Os homens ficaram na sala cerca de 20 minutos e, António e Clara, ficaram todo esse tempo atrás da secretária, abraçados.
-Vou lá fora ver e o chefe ainda demora…-Diz um dos homens.
-Eu vou contigo.
Saíram os dois, mas voltaram a trancar a porta. Porque trancariam as portas? Saberiam que estava mais alguém dentro da casa?
-Anda! Rápido!-Disse António puxando Clara pelo braço. Subiram as escadas a correr e trancaram-se no quarto. Clara estava a tremer. 
-Calma Clara. Vai correr tudo bem. -Disse António.
-Achas que vai correr tudo bem? Estes homens no estão par brincadeira. Se nos apanham aqui ainda…
-Ainda nada. Eu não deixo que ninguém te faça mal. - Diz António abraçando--se a Clara.
Sentaram-se num canto do quarto, mas sempre abraçados. Passados alguns minutos, António levanta-se e vai à janela.
-Que vais fazer? – Pergunta Clara preocupada.
-Vou ver se consigo perceber o que e passa aqui.
Os homens estavam no jardim com um terceiro. Depois de alguns minutos a discutir um dos homens apontou uma arma a este terceiro. Ele não estava muito assustado. Ele achava que o “amigo” não era capaz de disparar contra ele, mas enganou-se. Disparou mesmo. E António baixou-se e Clara correu até ele e abraçou-se a ele ainda baixados. Levantaram-se os dois devagar e espreitaram novamente. O homem não se mexia, mas eles continuavam a trata-lo mal mesmo depois de morto.
Voltaram para o canto e sentaram-se.
-Posso fazer-te uma pergunta?-Pergunta António.
-Claro diz!- Diz Clara.
-Como estão as coisas com o Filipe?
Filipe era o ex-namorado de Clara. E já há algum tempo que Filipe e António tinha problema, pois António há muito que gostava de Clara.
-Mal. Acabámos.- Diz Clara.
António não conseguiu conter um sorriso.
-Ele não é rapaz para ti.- Diz António.
Ouviram-se passos no corredor.





segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Uma noite na casa abandonada - 1ºCapitulo

Toda a turma combinara passar uma noite numa casa abandonada. A casa escolhida estava em bom estado (mais ou menos). Hoje era a noite escolhida e todos combinaram encontrarem-se à porta da escola para irem todos juntos. Alguns estavam assustados e pensavam em desistir. A maior parte tinha mentido aos pais. Disseram que iam dormir a casa de amigos. E se os pais descobrissem? Os mais corajosos incentivavam os outros e ninguém acabou por desistir.
Já estavam todos em frente à escola. Partiram e passados alguns minutos chegaram.
- É ali!- Diz um.
- Fixe! Vamos lá! 
Ao verem a casa ficaram ansiosos e entusiasmados e já ninguém pensava em desistir. A casa parecia uma verdadeira casa assombrada saída de um verdadeiro filme de terror. Aproximaram-se lentamente sem conseguirem falar, completamente pasmados. A casa, por um lado, metia medo, mas, por outro, era um cartão-de-visita para uma noite completamente aterradora.
-Ver filmes de terror nesta casa. UAU!- Dizia António que era o que estava mais ansioso para entrar. Passados alguns segundos de estarem pasmados a olharem para a casa, entraram.
Depois de abrirem a porta, entraram para, onde outrora teria sido uma sala de estar. Todos se dirigiram para o centro da sala e começaram a olhar em volta. 
- UAU!- Diziam todos.
A sala ainda tinha alguma mobília. Num canto da sala, estava uma pequena mesa redonda com um pano velho e sujo que, há muito, muito tempo, teria sido branco. 
Todos, muito juntinhos, subiram as escadas que rangiam a cada passo. No topo das escadas era um corredor onde haviam 3 portas. Antes de se instalarem queriam conhecer toda a casa. Entraram na porta que estava à esquerda deles.
- Isto devia ser um…
-Ai!- Interrompeu alguém.
- Que se passa?- Perguntaram, aflitos. 
- Vi um rato.- Todos se riram. 
- De que se estão a rir? Era um rato enorme.
Continuaram a investigar o que já tivera sido um quarto. Este quarto era pequeno para todos. 
Saíram e entraram em outra porta. Também parecia ter sido um quarto, mas estava mais degradado. Clara foi à janela.
- Venham ver isto…- Disse ela aos amigos.
Tentaram pôr-se todos em volta da janela. O que viam era algo assustador. Era um antigo jardim com árvores completamente mortas e um banco de madeira coberto de musgo. Estaria aquela cassa assombrada? Uma coisa é certa, o terror estava perto de chegar.
Saíram e entraram na outra porta. Esta parte da casa não tinha quase mobília nenhuma e era a que estava em melhor estado. 
-Dormimos aqui?
- É a parte mais espaçosa e dá para pôr os sacos-cama.
Ao fundo do corredor havia umas escadas que davam acesso a uma antiga cozinha. A cozinha estava imunda.
-Que nojo!
Na cozinha havia 2 portas. Uma dava acesso ao jardim e a outra à sala.
-Vamos preparando as coisas. 
-Vamos.
Subiram as escadas e foram para o suposto quarto.
Começaram a estender o sacos-cama. 
-Vamos ver um filme?
-Vamos. Onde está o portátil?
-Está naquela mochila. 
Pegam no portátil e põem o filme escolhido. 
-A comida?
-Está naqueles sacos.
Sentaram-se em volta do portátil a comerem umas bolachas. Começaram a ver um filme de terror.
Nesse filme haviam mortes e muito sofrimento. As raparigas mais sensíveis encostavam-se aos rapazes que estavam por perto. Clara agarrou o braço de António e encostou a cabeça no seu ombro. António olhou e sorriu.
O filme demorou cerca de uma hora e meia.
De repente, ouviu-se um tiro.
-Que é isto?- Sussurravam assustado.
-Não sei. Vamos embora!
Arrumaram as coisas rapidamente e saíram para o corredor sem fazerem barulho. O tiro parecia ter vindo da sala, por isso, desceram as escadas que davam acesso à cozinha e saíram pela porta das traseiras. Mas… UPS! Clara caiu nas escadas e António ficou para trás para a ajudar.