Esta noite tive um sonho
estranho. Sonhei que ia de mota, acelerei um pouco e perdi o seu controlo. Despistei-me
e o meu corpo arrastou cerca de 10 metros no chão. De início, não percebi, mas
mal caí da mota, separei-me do meu corpo. Olhei para ele mais tarde. Vi-o a
sagrar, todo arranhado e um pouco inchado. Reparei também que não levava
capacete. Como fui esquecer-me do capacete?
Veio
alguém a gritar e, passados poucos minutos, chegou a ambulância. Atrás da ambulância
surgiu uma onda de pessoas que se colocaram em volta ao meu corpo, enquanto os
paramédicos o analisavam.
O
meu pai chegou ao local e, ao vê-lo destroçado, tentei exaustivamente voltar
para o meu corpo, mas foi a primeira tentativa falhada. Logo a seguir, chegou a
minha mãe e agarrou-se ao meu corpo a pedir que eu voltasse. Tentei então mais
uma vez voltar, mas, mais uma vez, falhei.
Taparam-me
o corpo e dirigiram-se aos meus pais. A minha mãe desfez-se em lágrimas e
percebi, então, que o meu corpo morrera.
Chegou o meu irmão e eu nunca me senti tão mal. “Eu não o posso deixar”. “Eu tenho que o ver crescer”. Tentei então voltar
ao meu corpo com a força das lágrimas do meu irmão, mas nem essa força foi
suficiente: falhei.
Percebi então, que a morte não é o fim dos
sentimentos, mas sim, o piorar deles.
Saltei
logo para o dia do funeral. Todos os meus familiares e amigos vestidos de
negro. Só o meu corpo dentro do caixão estava vestido de branco. Custou-me
tanto, vê-los tao mal com o meu fim. Eu não podia deixá-los. Morreria novamente
de saudade.
Alguns
choravam, outros rezavam e outros falavam sobre as roupas, o caixão, as
pessoas, o acidente. Tinham todos uma rosa vermelha na mão que atiraram para
dentro do caixão. Pareciam manchas de sangue num manto branco e isso, fez-me
lembrar o acidente. Fecharam o caixão e colocaram-no naquele buraco. Taparam-no
com aquela terra negra como a morte. Como pode ser a terra o destino de todos
os corpos humanos?
Apareceu
uma luz branca e brilhante à minha frente e percebi que mais ninguém reparara
nela. Não tine outra reação possível, senão caminhar em direção a ela, mas,
quando estava prestes a atingi-la, acordei num salto.
Talvez
se eu dormisse mais um segundo e atingisse a luz, já não conseguiria acordar.
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